Criminologia
Autor: Kelly G. Naves
Etimologicamente, criminologia deriva do latim crimino (“crime”) e do grego logos (“tratado” ou “estudo”), sendo, portanto, o “estudo do crime”. Assim, podemos dizer que criminologia é área de estudos dos atos criminosos, investigando as causas, os autores do delito, as vítimas e as possíveis formas de combate à criminalidade. Esse campo do conhecimento tem caráter interdisciplinar. Afinal, muito de seu conteúdo é emprestado de diferentes ramos, como a biologia, a psicologia, a antropologia, a sociologia, a política, entre outras ciências. Além disso, é uma ciência tida como empírica por se basear na experiência da observação, nos fatos e na prática, mais do que em opiniões e argumentos.
As pessoas que trabalham e pesquisam na área são chamadas de criminologistas. Eles são responsáveis por examinar padrões comportamentais de criminosos, realizar investigações, desenvolver teorias e traçar estratégias para atenuar ou coibir atividades criminosas.
Criminologia e Suas Escolas:
A palavra “criminologia” foi empregada pela primeira vez por Paul Topinard em 1883, e aplicada internacionalmente pelo italiano Raffaele Garofalo em 1885, em sua obra “Criminologia”.
Desde então, surgiram diversas teorias que buscavam explicar as causas do comportamento criminoso e as formas de coibi-lo. Essas teorias dividem-se em três escolas de pensamento; sendo elas, clássica, positiva e sociológica.
Escola Clássica
A Escola Clássica surgiu em meados do século XVII, no auge do Iluminismo, período em que se buscava, principalmente, romper paradigmas absolutistas. A obra “Dos Delitos e das Penas”, de Cesare de Beccaria, foi um dos principais marcos da Escola Clássica da criminologia. Ela trouxe conceitos basilares para a formação da Escola Clássica, propondo um avanço na humanização das Ciências Penais. Nessa época, foram dados os primeiros passos para tornar o sistema penal mais justo e unificado.
O estabelecimento do poder punitivo do estado, a oposição às penas capitais, injuriosas ou violentas e a opção por penas mais brandas e restritivas, do ponto de vista da liberdade do indivíduo, são alguns dos principais avanços. A magnitude da Escola Clássica é tão vasta que é possível visualizar sua influência no sistema penal ainda na atualidade.
Escola Positivista
O positivismo surgiu entre o final do século XIX e início do século XX. Ele influenciou diversas áreas do conhecimento, incluindo os estudos de criminologia. A Escola Positivista foi a segunda linha de pensamento proposta para analisar as causas e fatores do comportamento criminal.
De acordo com essa teoria, o comportamento criminoso vem de fatores internos e externos fora do controle do indivíduo. Segundo essa linha de pensamento, os criminosos nascem como criminosos e não se transformam neles.
Essa teoria propõe que as ações criminosas são fruto de “desequilíbrios químicos” ou “anormalidades” dentro do cérebro ou do DNA do criminoso. O marco da criminologia positivista é “L´uomo Deliquente”, de 1876, de Cesare Lombroso. Na obra, o autor destaca a figura do delinquente nato, ressaltando a importância da condição genética para a compreensão do comportamento criminoso.
Escola Sociológica
Trazendo um ponto de vista diferente das correntes anteriores, temos a ascensão de uma terceira escola na área criminológica no final do século XIX: a Escola Sociológica.
A linha de pensamento dessa teoria dá ênfase às condições sociais do criminoso, tidas como cruciais para sua formação enquanto indivíduo. A partir dessa escola, passou-se a compreender como fatores sociais como o baixo nível educacional e as condições econômicas precárias influenciam no comportamento criminoso. Atualmente, as discussões da criminologia pairam sob as condições bio-psico-sociais do criminoso, envolvendo um pouco das três escolas.
Criminologia e seus ramos:
Por ser um campo de estudos multidisciplinar, a criminologia é dividida em diversos ramos de conhecimentos. Confira abaixo os principais:
Penologia
É um ramo da criminologia que estuda as punições e o tratamento adequado para as pessoas condenadas por crimes. A penologia abarca diversas questões e teorias, incluindo aquelas relacionadas às prisões (reforma penitenciária, abuso de prisioneiros, direitos dos reclusos e reincidência), bem como as de propósitos de punição (como dissuasão, reabilitação, retribuição e utilitarismo).
Sociologia do Direito
A sociologia do direito é um ramo da criminologia que reflete sobre teorias sociais e emprega métodos científicos para estudar as instituições legais e o comportamento jurídico.
Seu objetivo é compreender o desenvolvimento social de instituições legais, as formas de controle social, a construção social de questões jurídicas e a relação entre direito e mudança social.
Vitimologia
É o estudo da vitimização, incluindo relações entre vítimas e criminosos, interações entre vítimas e o sistema de justiça criminal e conexões entre vítimas e instituições sociais, como a mídia e os movimentos sociais.
Antropologia Criminal
É o estudo dos perfis criminais, baseado nos vínculos percebidos entre a natureza de um crime e a personalidade ou aparência física do agressor.
Psicologia Forense
A psicologia forense é a aplicação da psicologia clínica ao contexto forense.
Basicamente, essa ciência analisa as capacidades psíquicas dos réus, bem como seus comportamentos sob o viés da psicologia. A psicologia forense é aplicada, principalmente, em processos jurídicos e investigativos.
Ciência forense
A ciência forense é ramo que reúne um conjunto de conhecimentos científicos e técnicos que são utilizados para desvendar crimes e variados assuntos legais, como acidentes de trânsito ou trabalho, por exemplo. É uma das áreas mais conhecidas da criminologia.
É possível trabalhar no ramo da Criminologia? SIM! Como?
Os profissionais que atuam no campo da criminologia podem ter diversas formações. Afinal, é possível encontrar desde psicólogos até engenheiros atuando nessa área.
A criminologia é uma área bastante abrangente e que envolve diferentes perfis profissionais. Algumas graduações possíveis de se cursar para atuar no ramo são:
Criminologia
Essa é a graduação mais específica na área da criminologia, oferecida em algumas universidades do Brasil. O curso aborda diversos aspectos relacionados ao crime, como criminalística, investigação criminal, política criminal, entre outros.
Direito
Apesar de não ser um curso especificamente de criminologia, o bacharelado em Direito oferece muitos conhecimentos importantes para quem deseja trabalhar na área, como direito penal, direito processual penal e criminologia aplicada.
Psicologia
A psicologia é uma área que pode ser muito útil para a compreensão do comportamento humano relacionado ao crime, especialmente em aspectos como a personalidade, a motivação e o processo de tomada de decisões.
Ciências Sociais
A sociologia oferece uma visão ampla e aprofundada sobre a sociedade e suas estruturas, incluindo os fatores sociais que podem contribuir para a ocorrência de crimes.
Administração
Esse curso pode ser útil para quem deseja atuar em órgãos públicos ligados à justiça criminal, já que oferece conhecimentos sobre gestão pública, políticas públicas e estruturas governamentais.
Química
É uma graduação que pode ser útil para quem deseja ingressar no ramo da criminologia, especialmente na área da criminalística.
A criminalística é uma das áreas da criminologia que se dedica à análise científica de evidências físicas encontradas em cenas de crime, como impressões digitais, fibras, manchas de sangue, entre outras.
A química é uma ciência fundamental para a análise dessas evidências, já que muitas delas envolvem compostos químicos específicos.
Biologia
A biologia é uma ciência que pode ser útil para a análise de evidências biológicas em cenas de crime, como amostras de DNA, cabelos, tecidos, entre outras. Esse conhecimento pode ser aplicado em áreas como genética forense e medicina legal.
Biomedicina
É uma graduação que pode ser útil para quem deseja ingressar no ramo da criminologia, especialmente na área da perícia criminal.
A perícia criminal é uma das áreas que se dedica à análise científica de evidências biológicas encontradas em cenas de crime, como amostras de sangue, saliva, urina, entre outras. É uma ciência que pode fornecer as habilidades necessárias para a análise dessas evidências.
Serviços Jurídicos
Pode ser útil para quem deseja atuar com a parte burocrática do Direito dentro de instituições que lidam com as áreas de criminologia. É um curso de dois anos que foca na formação prática e prepara o profissional para lidar com o entendimento da lei.
Criminologista, como é o mercado para profissionais com essa formação:
O mercado de trabalho para criminologistas pode variar dependendo da localização geográfica, da formação e das habilidades individuais de cada profissional.
No entanto, de maneira geral, o campo da criminologia apresenta diversas oportunidades em diferentes setores e áreas de atuação.
Algumas das possibilidades de carreira para criminologistas incluem:
- Agências governamentais: muitos criminologistas trabalham em agências governamentais, como a polícia, o sistema de justiça criminal, os serviços de segurança nacional e as forças armadas. Nessas áreas, os criminologistas podem atuar em diversas funções, como analisar estatísticas criminais, elaborar políticas públicas de segurança, investigar crimes e ajudar a desenvolver estratégias de prevenção.
- Instituições acadêmicas: criminologistas também podem trabalhar em instituições acadêmicas, como universidades e centros de pesquisa. Nesses ambientes, eles podem conduzir pesquisas, publicar estudos e lecionar disciplinas relacionadas à criminologia e à segurança pública.
- Empresas privadas: algumas empresas privadas contratam criminologistas para ajudar a lidar com questões relacionadas à segurança, como prevenção de fraudes, gerenciamento de riscos e investigação de crimes internos.
- Organizações sem fins lucrativos: organizações sem fins lucrativos que trabalham em questões relacionadas à justiça social, direitos humanos e reforma do sistema de justiça criminal também podem empregar criminologistas em diferentes funções, desde a pesquisa até o desenvolvimento de programas e projetos.
E aí, gostou desse artigo? Esperamos que sim, e aproveitamos para oferecer a você, nosso curso de Criminologia com foco em Vitimologia, venha se preparar para o Mercado de Trabalho com quem entende do assunto!
Bibliografia:
GOMES, Luiz Flávio (Coord.). Crime organizado: enfoques criminológicos, jurídicos da Lei n. 9.034/95 e político-criminal. 2 ed. São Paulo: RT, 1997.
Direitos Humanos e redemocratização no Cone Sul in Direitos Humanos: um debate necessário. 2ª ed. Brasília: Editora Brasiliense
OLMO, Rosa Del. A América latina e sua Criminologia. Rio de Janeiro: Revan: ICC: 2004 (Pensamento Criminológico, 9).
PALAZZO, Francesco C. em Valores Constitucionais e Direito Penal. trad. Gérson Pereira dos Santos. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1989. p. 22.
PANDOLFI, Dulce Chaves. Cidadania, justiça e violência / Org. Dulce Chaves Pandolfi … [et al ]. — Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1999.
RAUTER, Cristina. Criminologia e subjetividade no Brasil. Rio de janeiro: Revan, 2003.